01 September 2009

Impressões sobre a política americana

Na quinta passada, fomos a uma sessão de debate na universidade de balanço das reformas da administração Obama. Uma oportunidade para saber o que pensam os americanos do seu presidente.

Após alguns dias, continuo a interpretar o debate com cuidado. Primeira ideia: quem estava naquela sala não representa o pensamento de todos os americanos. Naquela sala, Obama não foi criticado por uma direita mais conservadora e evangelista. Naquela sala, Obama foi criticado por sectores que, julgava, deveriam à partida apoiá-lo. Obama foi retratado como alguém que exerce uma presidência imperialista, que pouco se distingue de Bush. Sem perceber os desafios que isso apresenta para as dimensões e particularidades do seu país, as pessoas pediam literalmente que as mudanças fossem uma realidade já amanhã. Algo que alguém soube resumir tão bem dizendo we need a fucking different world - um dos pensamentos políticos mais densos e coerentes que já vi na minha vida. Para mim, ali não fiquei a saber o que pensa a América. Fiquei talvez a perceber que entre a violência e utopismo desta corrente anarquista e o radicalismo e absurdo do dos evangelistas e conservadores, poucas diferenças se encontram.

A assistência oferecia, entre si, mais diversidade de opiniões que o painel de oradores. Um jovem, por exemplo, defendeu Obama assumindo que numa América tão heterogénea talvez fosse essencial um presidente mais moderado e que promova o diálogo entre todas as partes. Outro exemplo foi o de um palestiano, que, um tanto incomodado, criticou uma jornalista que falara sobre a política para o Médio Oriente afirmando que era exagerado dizer que a presidência Obama segue a mesma política da de Bush e que para o provar bastava ver a impopularidade que Obama tem entre certos sectores da população israelita, favoráveis aos colonatos. O desmotivante no debate foi observar que aquele painel ignorou estes contributos. Ironicamente, este painel que tanto criticou os defeitos de Obama, cometeu um que este não comete: saber ouvir e debater opiniões contrárias.

Obama é um conciliador. Aquelas pessoas não. Isso explica muita coisa. O resto, explicou-o uma pessoa na assistência: o voto em Obama foi, em muitos casos, um voto de protesto. Feitas as contas, o maior desafio de Obama poderá não estar nos que o sempre criticaram mas nos que um dia o apoiaram.

Foto: Google Images

2 comments:

  1. Pedro,
    Parabéns pelos posts excelentes sobre a realidade americana.. as tuas reflexões estão muito interessantes, continua assim. Gostava de ter estado nesse debate sobre a administração Obama. Votos de que tudo continue a correr bem por ai. Beijinhos

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  2. Obrigado, Filipa! :)) Acredita que quando veio aquela do "we need a fucking different world" o debate se tornou surreal... eheh

    Abrcs.

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