25 October 2009

Mochila de novo às costas...

Daqui pouco mais de doze horas estarei a embarcar no avião para Nova Iorque e com isso ficam para trás três meses de Portland e uma grande experiência. Poder viver nos Estados Unidos é um privilégio. Espero tê-lo aproveitado e explorado tanto como sonhei e como vocês, amigos e família, me aconselharam. Acho que sim.

Aquilo que era curiosidade, quase em forma de troça, pela sociedade americana, hoje é um fascínio pelo que aqui se conseguiu, neste continente mágico. Talvez, um dia, nós europeus, também queiramos construir juntos um continente mágico.

O último dia não ficou para as malas mas para uma happy hours num restaurante grego com os amigos e colegas da faculdade e do inesquecível Paccini.

Ficaram histórias por contar, as das viagens de fim-de-semana, mas para essas há tempo - esperam-me oito horas no aeroporto de Portland até ao meu voo de madrugada. Agora, há que aproveitar um último dia em Portland. Vamos a isso.

Pela costa do Oregon

Acompanhados pela Marina, da Ucrânia, a Alissa, que nos levou a conhecer a sua Astoria, e o Allen, de Pittsburgh, estes três europeus foram hoje conhecer de carro a costa do Oregon. Uma viagem com duas paragens.

A primeira delas na pequena vila pescatória de Astoria. Dez mil habitantes, uma impressionante ponte metálica e algo a fazer-me lembrar o filme Shipping News. Daqueles sítios onde se costuma pensar para uma casa de fim-de-semana no inverno, onde se vê o mar e a neblina. Um sítio maravilhoso com ruas de casas tradicionais e um ambiente mesmo familiar, como nos disse a Alissa. Para minha surpresa, surge um leão marinho na água mas, ao que parece, não estava ali por acaso ou perdido mas simplesmente porque existe uma pequena colónia destes animais na cidade.

A segunda paragem foi em Cannon Beach que é uma belíssima praia, a lembrar um pouco a Figueira da Foz: ventosa, com mar bravo e água fria e serra em volta. Para quem, como eu, gosta mais de ver e ouvir o mapa, está muito bem. Especialmente agora no Inverno. E, então, se o fizer como, no nosso caso, com um almoço num restaurante com vista para a praia, tanto melhor. No Mo's comi a melhor clam chowder e uns deep fried shrimps fabulosos. Seguiu-se o passeio na praia e na vila que é como Astoria: eu ficava ali um fim-de-semana a descansar. Foi mesmo um bom final de viagens pelo Oregon e só posso agradecer aos nosso três guias e amigos pelo convite! Thanks!





20 October 2009

Um jogo é mais que um jogo

Um jogo de basketball é mais que um jogo. Logo no início percebemos isso quando é tocado o hino, o pavilhão fica às escuras, e os milhares de adeptos em pé e em silêncio a escutá-lo. Os americanos sabem ser patrióticos como poucos - e até na escolha do hino e da bandeira souberam-no ser. Nestes momentos, eu sinto-me americano. Nestes momentos, eu não consigo deixar de sentir um pouco de admiração ou mesmo inveja porque os americanos construíram uma nação, uma cultura e uma identidade. Quando ouvimos o hino percebemos que existe uma América, de estados unidos, e existem americanos. Mais que a Europa e europeus. Talvez mais que Portugal e portugueses.

Um jogo é mais que um jogo e isso percebe-se também a cada intervalo ou time-out. Desde exibições de claques, concursos, jogos e distribuição de prémios como bilhetes para próximos jogos, há espaço para tudo. Talvez só na América possamos encontrar uma cena como esta: num desses jogos, em que há que fazer tantos cestos quanto possível num dado tempo, faltam três pontos para o rapaz ganhar o prémio e só fazendo um lançamento fora de área o consegue antes do tempo. Parece quase impossível, sobretudo aquele rapaz que falhara lançamentos mais fáceis. Mas, como num qualquer filme, o comentador grita com entusiasmo you have five seconds, you can do it, Spencer. O yes you can não é político, é social. Já o tinha visto antes no rodeo e as pessoas reagem a isso. É emocional. Num segundo mágico, o rapaz lança a bola, entra ou não entra, e ela atinge o cesto. Impressionante. E o estádio, milhares de pessoas, irrompe em celebração porque aquele miúdo encestou. Ponham-se no lugar dele. Há quem sonhe acordado. E podem ter a certeza: sonha na América.

Pedro no mundo do basketball...

A pré-época de basketball começou há duas semanas e isso significa que os Trail Blazers, a equipa da cidade e uma das melhores da liga da NBA, recomeçaram os seus jogos. Uma oportunidade para estes europeus verem como se joga este desporto por terras americanas e ver alguns dos melhores jogadores americanos em acção. E, não vamos esquecer: por um preço muito menor do que nos jogos de época. O bilhete de última fila não só foi muito mais barato do que esperávamos como nos deu uma vista muito melhor para o campo do que poderíamos esperar entre dezenas de milhares de lugares.

Mas e o jogo? É definitivamente algo que nos prende do primeiro ao último minuto porque, facilmente, em dois minutos uma equipa que ganha com larga vantagem fica a perder por três pontos. Tudo depende do modo como os cinco jogadores da equipa adversária jogam e este é um desporto de grande iniciativa, energia e criatividade. Os Denver Nuggets tinham tudo isso e, como disse um dos meus colegas de casa, o Bert, este jogo de ontem foi especialmente bom para um jogo de pré-época. Tivemos sorte, portanto.

A dez minutos do fim, os Blazers não tinham vantagem sobre os rivais e a vitória foi arrancada a ferros: de uma margem de vitória de cinco pontos nos últimos quatro minutos, nos últimos dois minutos, restariam apenas três pontos. E três pontos é o que uma equipa ganha com um lance fora da área de lançamento. Durante o jogo vimos dois ou três e só isso vale o espectáculo como o momento em que os Blazers retomam a posse da bole, fitam as defesas, correm, passam a bola, não entra, tentam de novo, não entra, um agarra, salta e mete a bola no cesto enquanto se agarra ao cesto. Como nos filmes? Melhor que nos filmes, caramba. E isso diz tudo.

A imagem essa é do José que, para nossa sorte, levou a máquina e ainda gravou uns vídeos do jogo.

Bem, pelo menos, assim não gastaste lá o teu dinheiro...

Devo passar por aquela rua uma boas dúzia de vezes por mês mas nunca reparei que ali num dos cruzamentos há uma Borders. Como livraria não oferece mais variedade ou melhores preços que a Powell's. Não, o segredo está mesmo na secção de revistas que, como noutras cidades como Boston, é imbatível. Para bem da minha carteira, que não estica muito mais além da bolsa de estudo, só a descobri a uma semana de vir embora.

Como era mesmo aquele sítio onde o gajo foi passar férias?

O campus da minha universidade. Por mais uns dias, que depois troco este jardim cheio de árvores, sombra, bicicletas, esquilos, passaritos, corvos e pessoas a relaxar pelas subidas em calçada da Alta de Coimbra...

Diz-me o que vestes...

Aqui por Portland diversos cafés vendem t-shirts alusivas aos mesmos. O Lucky Labrador, que fabrica a sua própria cerveja e aceita cães no espaço, tem e o Vodoo Doughnuts não fica atrás. É caso para dizer que, com os americanos, se pode dizer diz-me o que vestes, dirte-ei quem és. Não é só o café ou bar que faz publicidade mas é a própria pessoa que usa a t-shirt que diz quem é, o que gosta, que espaços frequenta. E isso diz muito mais sobre a personalidade de uma pessoa que um rorschach - aqui entre nós, que ninguém nos ouve.

A própria Portland State University não dispensa na sua loja a venda de pólos, camisolas, t-shirts, cascóis e tudo o que mais se possa imaginar com as cores, nome ou logótipo da universidade. Uma imagem institucional que, volta e meia, virou uma imagem comercial. Aqui nos Estados Unidos trata-se também de vender a universidade como uma boa escolha para futuros alunos. A Universidade de Coimbra bem que podia seguir o exemplo.

Oregon Zoo

Em contagem decrescente para o regresso, estou a tentar visitar o que ainda não havia visitado. Já em Itália tinha sido assim: uma correria nos últimos dias para tentar regressar sem aquela visita que me ficou aqui atravessada. Hoje de manhã, mesmo com tempo nublado, apanhei o MAX até ao Washington Park e fui visitar o parque zoológico de Portland, o Oregon Zoo.

Passei ali umas boas três horas a fotografar os animais e a descansar um pouco dos trabalhos - para já, todos sob controlo. Tempo para a paixão pela fotografia e também para o gosto pelos bichos - que, arrisco, deve ser dos tempos daquele disco do programa de televisão A Arca de Noé com as músicas dos animais e daqueles documentários de domingo do BBC Vida Selvagem.

Empenhado em melhorar espaços, seja no recém inaugurado espaço dos leões ou na área para os primatas em construção, o zoológico está bastante bem organizado, seja nas facilidades para os visitantes, seja no próprio percurso que inclui zonas da savana africana, dos predadores africanos, apenas inaugurada há algumas semanas, elefantes asiáticos ou, por exemplo, animais da região noroeste dos Estados Unidos - sejam castores, ursos, pumas e águias, tudo o que poderemos encontrar, com alguma sorte, no Oregon. Palavras para quê? Melhor mesmo é verem este vídeo e este outro.
Existem, ainda, uma pequena quinta e uma linha de comboio. Uma verdadeira linha de caminhos-de-ferro para verdadeiro comboio, pequeno é certo, que faz a ligação entre as várias áreas do zoo e oferece algumas vistas diferentes ao visitante. Ficou a faltar apenas a áreas dos alces e dos lobos estar aberta para visitas.

Valeu bem a visita e o preço do bilhete que, oferecendo praticamente o mesmo, é mais barato que o zoológico de Lisboa. Mas como uma imagem vale mais que mil palavras, aqui ficam as imagens da visita.







Um passeio nocturno em Portland

Não é muito comum vermos isso em terras portuguesas, mas aqui muitos bares, restaurantes e lojas americanas possuem um ou mais anúncios de neon. Quer estejamos em Portland ou outra cidade americana, a regra mantém-se. Não sei se os americanos gostam deles mais que os europeus, mas eu achei-lhes graça. Antes de ir tinha que fazer umas experiências com a câmara fotográfica...






18 October 2009

Últimos dias em Portland (3)

Hoje à tarde vinha da biblioteca, onde eu e a comadre Tânia já começámos a trabalhar para as aulas que entretanto começaram em Coimbra, e não pude deixar de reparar neste dia de Outono molhado e nublado: as folhas estão a cair, as árvores estão a ficar amarelas e vermelhas, a cidade está a mudar. Portland está bonita. Antes de ir, ainda coloco aqui umas fotos.

Últimos dias em Portland (2)

Esta é a minha universidade. Por mais uns dias.

Últimos dias em Portland (1)

Entrei na última semana em Portland e isso já se começa a notar. Começo a preparar as malas, a organizar a papelada, a despedir-me dos locais e pessoas. Até a bicicleta que uso há cerca de três meses, a que comprei numa venda de garagens logo no primeiro dia que aqui cheguei, foi posta à venda na Craig List.


16 October 2009

A girl with kaleidoscope eyes

Começou com os Estados Unidos. Continua com os Estados Unidos.

13 October 2009

Ocorreu-me dizer uma coisa parva

Eu acho que somos mais felizes a lembrar certas coisas, sim. É só preciso tê-las vivido.

09 October 2009

My twilight zone moment

Estávamos quase a chegar ao museu de bicicleta, numa distância de quatro ou cinco quarteirões de casa. A viagem demora cinco minutos se tanto mas acabou por demorar quase 20 minutos. Sem exagerar tivemos que esperar uns bons 15 minutos enquanto, na passagem do caminho-de-ferro, passava o mais longo e mais lento comboio de mercadorias que alguma vez na minha vida. Já me habituei a que os comboios americanos, quase todos de mercadorias, sejam lentos e grandes mas este aqui é bem capaz de ter chegado à estação de comboios ainda iam os últimos vagões a passar à nossa frente.

Será que terei acabado de assistir a um momento histórico?

Desafiado pelo meu novo colega de casa fomos ao Oregon Museum of Science and Industry (OMSI) para assistir pelas quatro da manhã à transmissão em directa da missão da NASA para provar a existência de água na Lua.

Ainda não sei se assisti a um momento histórico. Daqueles que um dia poderei dizer, com uma voz rouca e aparentemente sábia, sabes, o avô viu a transmissão da descoberta da água que existia na Lua antes de a usarem toda para um hotel de luxo para turismo espacial. Uma espécie de chegada do Homem à Lua da geração Twitter.

Mesmo sem água na lua, a noite não terá sido uma seca. Quem diria que a estas horas estivessem 500 pessoas a assistir à transmissão? A organização esteve à altura e desde uma banca com café e chá quente a uma tradutora de linguagem gestual que ia repetindo os comentários da transmissão televisiva tudo foi pensado. No final, aquando do histórico impacto da primeira sonda, a sala irrompe em palmas. Palmas de orgulho e entusiasmo. É verdade, América, voltaste a surpreender-me.

Foto: Google Images

08 October 2009

Daquelas coisas que nos deixam orgulhosos...

É oficial (vejam aqui). O nosso mestrado europeu foi considerado o melhor entre 37 mestrados do programa Erasmus Mundus avaliados pela comissão que visitou as universidades do consórcio em Setembro. Fico orgulhoso de ter a sorte de estar a participar num mestrado destes.

Notas rápidas

Esta semana tem sido intensiva entre aulas no departamento de Psicologia e na School of Business and Admnistration da universidade - sobre estas últimas, ainda voltarei a escrever com mais tempo -, o trabalho de investigação e contactos com vista a um projecto futuro. Com mais tempo, a ver-se conto melhor o que ando por aqui a fazer.

06 October 2009

Três semanas em Portland

Nas próximas três semanas, antes do regresso a casa, ficarei por Portland entre aulas, trabalho de investigação e tempo para explorar os cantos da cidade que ainda não conhecemos.

O trabalho de investigação da diversidade continua, com muita ajuda e apoio dos meus colegas de grupo - que têm sido incansáveis. Hoje tivemos uma tarde de trabalho e esta semana esperam-me mais duas reuniões de trabalho antes de apresentarmos os primeiros resultados na sexta. A este ritmo, vamos conseguir levar o barco a bom porto - e talvez mais cedo do que o esperado.

Destes meses na universidade levo sobretudo a experiência de trabalhar em equipa e numa equipa internacional. Trabalhar mesmo em equipa e mesmo numa equipa internacional. Muito mais que em Coimbra. Muito mais até que em Cesena. Este mestrado não foca apenas conhecimentos. Foca também essas competências que precisamos no dia-a-dia numa empresa. Digamos que ando a aprender sem aprender. E a aprender muito.

Viagem pelo deserto

Aquela imagem clássica da Route 66 e dos caminhos e estradas pelos desertos dos Estados Unidos fascinava-me. Gostava de fazer uma viagem dessas, devem-me ter ouvido algumas vezes.

Pois bem, neste fim-de-semana, ao alugarmos um carro em Las Vegas, eu e o José cumprimos dois sonhos antigos: ele viu o Grande Canyon, eu fiz a tal viagem. Uma viagem de 800 quilómetros que atravessou os estados do Nevada, Utah e Arizona. Uma viagem que mostrou que os Estados Unidos são mais que um grande país. São um país grande. Um país onde numa única viagem vemos deserto e floresta, temos frio e calor, temos planícies sem alma, pequenas vilas sulistas, montanhas e o Grande Canyon. Cabe tudo num adjectivo: espantoso.