29 September 2009

A sorte de ter uma câmara à mão

Boston é uma cidade de parques e de árvores. Facilmente encontramos esquilos seja nos campus de Harvard, do Massachusetts Institute of Technology, nos parques da cidade no Fredom Trail ou mesmo nos cemitérios históricos que fazem parte deste último. Nem um, nem dois. Devo ter visto dezenas e nalguma delas três ou quatro no mesmo sítio. A sorte é quando temos uma câmara à mão.



Impressões de Boston

Eu juro que não era para ser tradição mas o relato da viagem a Boston ficará para uma outra altura, assim como os de Los Angels e Washington DC. Durante esta semana entre aulas, investigação e um outro projecto sobrará pouco tempo.

Por agora, apenas para dizer que parti para Boston com expectativas altas. A cidade dos Kennedy. A cidade de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology. O berço da nação americana.

Boston foi muito mais que isso. Muito mais que um bom fim-de-semana fora de Portland. Uma cidade que nos consegue transportar com as suas ruas para pleno século XVIII, para os tempos da revolução americana e, anos mais tarde, para os fluxos emigrantes de irlandeses e italianos. Uma cidade que nos relembra que ali se constrói muito do saber e conhecimento de uma nação. Uma cidade que nos mostra a sua força económica e política quando abandonamos as ruas e ruelas e olhamos para o céu e vemos os altos e modernos prédios da skyline. Uma cidade que sintetiza muito bem as adversidades e as diversidades que construíram os Estados Unidos.

Se pensamos que os Estados Unidos, porque são recentes, não têm história nem essa história é feita de grandes feitos e grandes figuras, estamos enganados: Boston está ali para nos elucidar.

Fazer figas

Inspiro, faço figas e começo uma etapa que pode decidir onde estarei e o que estarei a fazer daqui um ano. Desejem-me sorte.

22 September 2009

O regresso às aulas sem a Leopoldina...

Ando a ver as aulas disponíveis para o período de Outono aqui na faculdade. Estou bastante curioso face ao que oferece a School of Business and Administration - nalguns casos, os mesmos conteúdos mas, espero, diferentes pontos de vista e métodos de ensino.

Uma diferença: nos Estados Unidos, as aulas não duram um semestre e não correm juntas durante meses. Cada ano lectivo não tem dois semestres como em Portugal mas quatro períodos com blocos intensivos de aulas que duram algumas semanas e que se distribuem pelo Outono, Inverno, Primavera e Verão. Sim, como as estações do ano.

21 September 2009

Impressões sobre Washington DC

Como aconteceu com as novidades da viagem por Los Angels, as de Washington DC irão esperar uns dias devido ao trabalho.
Deixo contudo uma rápida nota sobre esta cidade que tanto me maravilhou: se o mundo tem uma capital, essa capital é, provavelmente, Washington DC; se Washington DC é essa provável capital, então, o mundo tem uma bela capital.

Uma espécie de retrato oficial

Um pouco inspirado por um comics com Barack Obama (ver aqui), aqui segue um diz que é uma espécie de retrato americano. Daqueles que não são para levar a sério.

16 September 2009

Dei o meu grito do ipiranga...

... na cozinha. Talvez cansado de saladas e sandes ou apenas inspirado pela temática eleitoral, decidi voltar aos tachos. Demorou mais do que o normal, foi mais complicado nesta cozinha americana, mas acabei a cozinhar um strogonoff. Igual ao que fazia em Cesena. Soube-me bem. Tão simples quanto isto. Tão bom quanto isto.

15 September 2009

Olho em volta

Depois de ter contado a sua experiência em Barcelona, a minha Mariana regressa a Coimbra com um novo blogue. É o Olho em Volta e, entre um pouco de tudo, vai receber as fotografias que a Mariana tirar com a sua nova câmara. E com as que já por lá andam é caso para realmente dizer: uma foto por dia... nem sabe o bem que lhe fazia.

Viagens e trabalho

As novidades da viagem de fim-de-semana por Los Angels vão esperar uns dias. Para já, voltei ao trabalho à tese e nas tarefas daqui da universidade aproveitando estes dias que vou estar por Portland antes da viagem a Washington DC.

10 September 2009

Se calhar a Manuel Moura Guedes entrava no elenco...

O programa de televisão a que íamos assistir foi cancelado.

Olha, o gajo finalmente perdeu-se...

Mesmo com o meu razoável sentido de orientação não o pude evitar: perdi-me na biblioteca da universidade. A sorte é que nos dão um mapa à entrada onde podemos encontrar a prateleira que queremos e, deste modo, também a saída. Nunca havia visto tantos livros juntos e tantos corredores. E estou apenas a falar de um dos cinco pisos da biblioteca. Ao pé desta biblioteca, a Powell's City of Books é pequena. E a Powell's é grande - mesmo muito grande.

Até agora tinha ido à biblioteca para imprimir documentos - podemos imprimir 500 folhas por ano - e não me tinha apercebido de que, nuns andares mais acima, temos espaços muito bons para estudo ou para reuniões de grupo e, ainda mais, uma vista impressionante para a copa da árvore em torno da qual a biblioteca foi construída.

E fiquei impressionado com o período com que posso ficar com os livros para a tese: dois meses. Em Coimbra não vamos além das duas semanas.

09 September 2009

Hit the road Jack...

Passados quase três meses da entrega do draft, tempo de regressar ao trabalho na tese. Em Julho de 2010 termina tudo. O objectivo para já é rever algumas das análises estátisticas e detalhes, aproveitando que o meu orientador italiano está aqui connosco em Portland. Olho para a lista de recados que deixei a mim próprio e para as sugestões do meu orientador. Há trabalho para pôr em dia. Há tempo e vontade. E, como cantaria o Ray Charles, hit the road Jack...

XIX Festuna

Depois de no ano passado o Festuna, o festival internacional de tunas académicas, ter entrado, por assim dizer, na maturidade, este ano volta com mais actuações, mais humor e mais irreverência. Se há algo que Coimbra tem de muito bom são estas tradições académicas. Coimbra tem carácter, sem dúvida.
Aos que andam por Coimbra, não percam. Este ano fico-me pela foto no cartaz. Mas bem que a trocava pela música...

08 September 2009

Pedro no mundo da televisão?

Com o TV Tickets (ver aqui a página) podemos obter a custo zero bilhetes para assistir à gravação de séries e programas americanos na região de Los Angels. Pois bem, já estão a ver onde eles arranjam aquele riso de pacotilha para o Seinfeld.
Por duas semanas que não pude assistir ao Dr. Phil. Seria uma experiência surreal para um licenciado em psicologia - afinal, este senhor está para a psicologia como Kim Jong-il para os valores da liberdade de expressão.

Acabámos por ficar com bilhetes para uma sitcom que acompanha o dia-a-dia de um antigo jogador de futebol americano que se tem que adaptar à vida familiar depois de anos de sucesso desportivo. E este é o protagonista...


Foto: Google Images

07 September 2009

Lembrem-se, tudo isto é a pensar na segurança nas estradas americanas...

Está confirmado: no estado de Oregon, não existe qualquer impedimento para o uso do telemóvel enquanto se guia.

Uma sugestão de restaurante

A América, apesar do que possamos pensar do fast-food, também oferece uma gastronomia simples, honesta e saborosa. Hoje, por desafio da Franziska, fomos jantar ao Montage na 301 SE Morrison. Este é, para já, o restaurante que eu sugeria a quem passe por Portland.

Sim, a localização - por baixo de uma ponte, na zona este da cidade - não é prometedora. Mas ao entrar parece que damos um salto para a outra ponta de Portland: o restaurante agradável e limpo, com cozinha aberta aos nossos olhares, com boa decoração, com muita cliantela e uma ementa variada.

Por um preço ligeiramente abaixo da média para um jantar em Portland, e com um horário de funcionamento bastante alargado, este restaurante oferece um pouco de tudo. Desde o italiano macaroni, passando por pernas de rã e carne de corcodilo até a um genuíno prato do Luisiana - com pão de milho, arroz, feijão picante, legumes e salsicha de porco fumada. Fui para o último e posso dizer que a comida americana - a verdadeira - é mesmo muito boa.

Porque eles servem boas doses, fica ainda o desafio para deixar alguns leftovers e pedir para os levar. Não só lhe dirão que sim, o que não é incomum, como os trarão embrulhados em papel de prato com a forma de uma espada, de uma flor ou mesmo de um escorpião...

06 September 2009

My twilight zone moment

Sob o lema it's good to be full, a Hungry-Man, algo como homem esfomeado, traz-nos por uns módicos 1,99 dólares uma refeição ultra-congelada de micro-ondas com o verdadeiro sabor americano. Frango frito, milho e puré de batata. Satisfeitos? Caso ainda não o estejam, existe sempre um chocolat brownie à vossa espera no fundo da caixa. Um americano não espera menos da Hungry-Man... Talvez por isso a caixa assinala com orgulho que são 1 lb. de food ou, traduzindo em português, cerca de meio quilo de algo que se assemelha a comida.

Foto: Google Images

Esta não era uma má ideia para o simplex...

Há pequenos detalhes que melhoram o dia-a-dia das pessoas: se, por exemplo, eu quiser fazer o meu passaporte português terei que ir ao governo civil do meu distrito; aqui, um americano faz o passaporte em qualquer estação de correios da sua zona.

Oregon State Fair

A Oregon State Fair é um grande evento e este ano em especial: o Oregon comemora 150 anos desde que se tornou o 33º estado dos Estados Unidos. Aqui mostra-se o melhor que se produz, o que a economia do estado oferece, o que as organizações defendem como projectos. A feira coincide com Labour Day, o dia do trabalhador que aqui se comemora em Setembro e é mais um evento social que político.

Mas porquê em Salem? Ao que parece Salem, mesmo sendo uma cidade mais pequena que Portland, é a capital do estado. Não é algo incomum - o mesmo se passa, por exemplo, com Seattle no estado de Washington, Chicago no Illinois ou Detroit no Michigan.

A feira pode em algumas coisas lembrar a Ovibeja ou a Feira de São Mateus mas fica-se por aí. A american way of life é diferente da portuguese one e isso nota-se.

Temos os inevitáveis legumes gigantes e o gado pujante. Bom gado e bons cavalos já tinha visto, mas coelhos do tamanho de um cão nunca. A filosofia super size menu está por toda a parte: seja nos prémios nas barracas de jogos - em que um miúdo pode subitamente ver-se a braços com um peluche de uma banana do tamanho de uma cama -, seja nas doses na área dos restaurantes - onde facilmente vemos uma pessoa dar conta de uma gigante perna de peru ou dos espantosos e calóricos monster fry bricks, autenticos tijolos de batatas fritas.

Por sugestão do Philip, provei um corn dog, uma salsicha panada que é muito saborosa. Porque a desgraça já estava no caminho, provei uma elephant ear, uma espécie de fartura que, como o nome diz, tem a forma de orelha de elefante e vem acompanhada do inevitável açúcar e canela. Os vendedores portugueses que me perdoem, mas nunca vi estas maravilhas à venda na Feira de São Mateus...









Pedro no curioso mundo dos rodeos

Os Estados Unidos têm esta característica extraordinária de nos oferecerem sempre surpresas. E de terem pessoas surpreendentes. Na semana passada, um jovem casal americano, que conhecia há escassas horas, desafiou-me espontaneamente a ir com eles ver um rodeo.

Foi uma boa oportunidade para fotos, como me antecipou o Philip - e tinha razão. Só posso voltar a agradecer ao Philip e à Susannah pela oportunidade de os acompanhar a eles e aos seus dois filhos nesta viagem. Foi uma grande experiência!

Ver um rodeo nesta parte dos Estados Unidos foi, no mínimo, inesperado. Ora, temos esta tendência para imaginar que os Estados Unidos são uma cópia do Texas de norte a sul e oeste a este, ora pensamos que estas coisas só se passam no sul - nos desertos dos filmes de cowboys. As aparências enganam: com uma área igual ao nosso Portugal mas apenas 3 milhões de habitantes, um terço a viver aqui em Portland, o estado do Oregon é sobretudo natureza, florestas, campos agrículas e de pastagem. Neste país, onde tivermos gado, podemos esperar encontrar os tais cowboys...

Foi uma das coisas mais espantosas que vi neste mês que levo nos Estados Unidos. Os americanos sabem o que fazem. Um rodeo é quase uma forma de arte. No fim de contas, esta é uma das suas tradições mais genuínas.

O público responde sofre com a tensão e vibra com vitórias. Vê-se que gostam do que vêem. E vê-se que os que participam no rodeo gostam do que fazem. Os cavalos selvagens que não querem ser montados não querem ser montados. Os cowboys que saltam da montada para atirar por terra os vitelos saltam com força. Os cowboys que disparam com precisão são certeiros. E os que mostram truques com os laços fazem arte.

Ali joga-se muito. A imagem de um homem como homem. A imagem de um negócio. A imagem de uma tradição. Meses de trabalho. Não pude deixar de notar que ao fundo da arena, longe dos olhares do público que observa mais uma exibição, um grupo de amigos ou irmãos se ajoelhava em círculo e rezava antes que um deles montar um cavalo selvagem. É isso que trago dali: aquilo é algo autêntico.





Vários rostos

Uma das oportunidades que esta experiência nos Estados Unidos me tem oferecido é conhecer pessoas de outros países. Como nos filmes, e esta começa a ser uma frase recorrente, os Estados Unidos são um ponto de encontro de várias pessoas que vêem neste país um lugar certo para desenvolver um projecto profissional, académico ou pessoal. Na Portland State University tenho trabalho com colegas do Irão, Sri-Lanka, Vietname ou Alemanha.

Este mestrado fez-me descobrir algo importante: que gosto do trabalho em equipas multiculturais. Gosto da curiosidade e abertura que as pessoas têm. Gosto de saber quem são, donde vêm. Gosto de perceber que as diferenças não são obstáculos intransponíveis.

A riqueza deste mestrado está nas pessoas de vários países que o compõem. Por isso, fico contente em saber que, muito provavelmente, duas colegas aqui da universidade se irão candidatar ao nosso mestrado.

Chinatown

Algumas imagens do pórtico que decora a entrada da Chinatown de Portland. Realmente, muito bonito. Se bem que, como dizia o Mo-Wang, é estranho ver uma Chinatown sem lojas chinesas.


03 September 2009

Jardins japoneses

No fim-de-semana visitámos os jardins japoneses - com mais tempo, coloco mais fotos. Os jardins não são tão grandes como esperávamos, mas são muito bonitos. Gostei especialmente da pequena cascata, da casa tradicional e do pequeno lago. Nota-se bastante cuidado e perfeição no seu desenho, no modo como são tratados e até no modo como os visitantes circulam neste espaço.

Fiquei impressionado, ao folhear um dos livros da loja do jardim, com as mudanças que ocorrem ao longo das estações. Primeiro, na Primavera, florido e colorido. No Verão, verde. No Outono, vermelho e castanho. No Inverno, branco com a neve. Sim, como nos desenhos das estações de um livro escolar.

Pedro no estranho mundo dos comics

Na semana passada entrei numa loja de comics na Hawthorne Blvd. Não uma loja de manga japonês. Não uma loja de banda-desenhada europeia. A Excalibur, assim se chama, é uma verdadeira loja de comics americanos. Dos mais clássicos personagens como o Super-Homem ou o Homem-Aranha até às mais arrojadas grafic novels de novos talentos que podem ter como história o drama humano de New Orleans em 2005. Histórias e estilos para todos os gostos e idades. Uma loja como as que aparecem nos filmes.

Sempre tive curiosidade de saber quanto valeria uma preciosidade - daquelas que nos filmes ficam fechadas décadas num saco inviolável e são lidas cuidadosamente por um qualquer solteiro trintão, com uns bons quilos a mais, usando luvas.

Contrariamente ao que esperava, o mais caro nem sempre é o mais antigo ou mais conhecido. Tudo depende da oferta, explicou-me o dono. Assim, podemos encontrar uma edição especial Batman dos anos 60 por cinco dólares - repito, cinco dólares - e ter que dar 200 dólares - repito, 200 dólares - por uma revista com pouco mais que dois anos mas que foi a primeira em que Barack Obama surge na capa - apenas porque nessa última a tiragem não foi além de umas escassas centenas.

Para casa, mais por curiosidade que por paixão, trouxe um comics sobre os primeiros cem dias de Barack Obama no poder e um número das Teenage Mutant Ninja Turtles da década de 1980 pelas mãos de Eastman e Laird. Havia muito mais por onde escolher.

Foto: Google Images

Pequenos prazeres

Terminado o almoço pego na bicicleta e subo a Hawthorne Blvd,. Hawthorne é Hawthorne. Como já escrevi, um local especial com lojas especiais.

Estaciono-a na Powell's da zona. Mais pequena que a da Downton mas com uma boa selecção de livros em segunda mão e guias de viagem. Umas horas de sossego a consultar guias de viagem e tirar notas. Não há dúvidas, José: esperam-nos grandes viagens. Não resisti a trazer para casa um chamado The Vintage Book of Contemporary American Short Stories, editado por Tobias Wolff que não foi além dos cinco euros. Pouco para um livro novo. Pouco para 530 páginas. Pouco para 33 histórias e contos modernos ambientados um pouco por toda a América.

Passo pelo Starbucks para comprar um café. Seguindo uma sugestão do Anel comprei um termo que, a partir de agora, encho por apenas 30 cêntimos - europeus. Não é uma bica portuguesa ou um espresso italiano. Não tem o mesmo tamanho. Não tem o mesmo sabor. Não tem o mesmo fascínio. Não tira o sono. É um café americano. O encanto está aí. Ou no leite e baunilha e chocolate em pó que, a gosto, podemos juntar.

Numa próxima oportunidade, já sei: pego na bicicleta e no livro, agarro num café e vou para o relvado do campus universitário passar umas horas à sombra de uma árvore. Soa-me bem.

Foto: Google Images

01 September 2009

Um passeio de bicicleta por Hillsboro

No sábado, aproveitei a ida ao aeroporto de Hillsboro, onde decorreu o festival aéreo, para dar um passeio pela vila. A viagem na linha de MAX desde Portland até Hillsboro não leva mais que meia-hora e podemos levar a nossa bicicleta na carruagem - nem nos precisamos de preocupar com ela, viaja num suporte próprio.

Chegado ao centro da vila peguei na bicicleta e fui explorar as ruas. Tinham-me dito no festival que era uma cidade pequena com uma grande comunidade de mexicanos. De facto, a localidade corresponde à imagem da terra nascida à beira da estrada. Uma imagem bem diferente de Portland.

Hillsboro é uma terra com ruas largas e casas de um só piso. Não é pequena. Mas se é grande é-o porque cresceu para os lados e não para cima. Muitas bombas de gasolina e restaurantes de fast-food. Poucas pessoas e espaços simpáticos. Todos parecem ter casa e o essencial mas não parece ser uma terra feliz ou especialmente rica e próspera. Parece um dormitório para emigrantes, meio esquecido ali nos campos que rodeiam o pequeno aeroporto.

Esta é a América real. Não a América do yes we can. A outra. A América do may be we can.

My twilight zone moment

Estava eu a preparar um hot-dog em casa, quando noto que as salsichas são mais castanhas que o costume e mais esponjosas. Ao comer, nenhuma diferença. O mesmo sabor de qualquer outra salsicha. Apenas as salsichas eram mais castanhas e esponjosas. Intrigado vi a embalagem e percebi que não era carne de porco. Não era sequer carne. Era tofu. Agora, se uma salsicha de tofu sabe ao mesmo que uma salsicha de porco, terá esta última que ter alguma carne de porco?

Impressões sobre o mundo académico americano

Na América trabalha-se. Trabalha-se muito, como me dizia o Bert, um dos meus colegas de casa americanos. Trabalha-se bem, como vejo na faculdade no modo como as reuniões de trabalho são directas e rápidas. Mas em muitos casos, nós, europeus, ignoramos que na Europa também se trabalha muito bem.

Uma das grandes diferenças é a capacidade que os americanos têm, e nós não, para valorizar, destacar e dar a conhecer o que é feito. Isso é uma grande qualidade deles. E uma das razões do prestígio das instituições académicas americanas. A agressividade comercial aplicada ao mundo académico. Como se as universidades fossem empresas que têm que vender um produto. E, verdade seja dita, não é essa a realidade?

Não tenho dúvidas, comparando-o com outros, que o nosso mestrado é dos melhores na área dos recursos humanos. Como eu e o José falávamos há uns tempos, o principal desafio que este recente mestrado europeu enfrenta é sobretudo que isso seja percebido por futuros candidatos e por futuros empregadores. Por outras palavras, que o mestrado seja mais conhecido e valorizado por quem pode vir a entrar para ele e para quem pode vir a beneficiar dele. Dizem-me estes últimos meses de experiência, divididos entre três países e três realidades, que se divulgarmos o que temos e o que fazemos, do mesmo modo que os americanos fazem, o mestrado falará por si.

Impressões sobre a política americana

Na quinta passada, fomos a uma sessão de debate na universidade de balanço das reformas da administração Obama. Uma oportunidade para saber o que pensam os americanos do seu presidente.

Após alguns dias, continuo a interpretar o debate com cuidado. Primeira ideia: quem estava naquela sala não representa o pensamento de todos os americanos. Naquela sala, Obama não foi criticado por uma direita mais conservadora e evangelista. Naquela sala, Obama foi criticado por sectores que, julgava, deveriam à partida apoiá-lo. Obama foi retratado como alguém que exerce uma presidência imperialista, que pouco se distingue de Bush. Sem perceber os desafios que isso apresenta para as dimensões e particularidades do seu país, as pessoas pediam literalmente que as mudanças fossem uma realidade já amanhã. Algo que alguém soube resumir tão bem dizendo we need a fucking different world - um dos pensamentos políticos mais densos e coerentes que já vi na minha vida. Para mim, ali não fiquei a saber o que pensa a América. Fiquei talvez a perceber que entre a violência e utopismo desta corrente anarquista e o radicalismo e absurdo do dos evangelistas e conservadores, poucas diferenças se encontram.

A assistência oferecia, entre si, mais diversidade de opiniões que o painel de oradores. Um jovem, por exemplo, defendeu Obama assumindo que numa América tão heterogénea talvez fosse essencial um presidente mais moderado e que promova o diálogo entre todas as partes. Outro exemplo foi o de um palestiano, que, um tanto incomodado, criticou uma jornalista que falara sobre a política para o Médio Oriente afirmando que era exagerado dizer que a presidência Obama segue a mesma política da de Bush e que para o provar bastava ver a impopularidade que Obama tem entre certos sectores da população israelita, favoráveis aos colonatos. O desmotivante no debate foi observar que aquele painel ignorou estes contributos. Ironicamente, este painel que tanto criticou os defeitos de Obama, cometeu um que este não comete: saber ouvir e debater opiniões contrárias.

Obama é um conciliador. Aquelas pessoas não. Isso explica muita coisa. O resto, explicou-o uma pessoa na assistência: o voto em Obama foi, em muitos casos, um voto de protesto. Feitas as contas, o maior desafio de Obama poderá não estar nos que o sempre criticaram mas nos que um dia o apoiaram.

Foto: Google Images

O retrato económico da América

No debate da passada quinta houve, contudo, uma participação inicial que cumpriu o seu papel: fazer um retrato económico da actual América para lançar as intervenções do painel. O retrato de uma América que tem uma taxa de 9,5% de desempregados ou, se pensarmos no estado de Oregon, uma taxa que chega aos 13,5%. Aquela onde se diz que os 800 mil milhões de dólares do pacote de recuperação Obama são pouco porque não são mais que 3% do produto interno e muito menos que o pacote de ajuda ao sector financeiro. Aquela onde o maior empregador são as forças militares, contando nas suas fileiras com mais de 3 milhões de americanos. A que gasta o dobro da maioria dos países industrializados em saúde e tem dos piores resultados. Aquela onde, desde que Obama chegou ao poder, foram dados alguns sinais positivos, comentou.

My twilight zone moment

Num festival aéreo esperamos encontrar aviões. Mas num festival aéreo na América devemos esperar também encontrar a demonstração dos Robosauraus. O espectáculo é tão invulgar e irreal como simples: um gigante dinossauro de metal, com os seus quatro a cinco metros de altura, desliza ao longo da pista do aeroporto agarrando carros velhos que parte em dois e esmaga enquanto cospe fogo e lança rugidos.

O dinossauro é falso. Os carros cortados previamente. Os rugidos primtivos gravados de um qualquer filme. O fogo é mais uma chama que nem chega a queimar a pintura do carro. Mas o público aplaude, delira e entusiasma-se como se assistisse a uma verdadeira matança em pleno Jurássico.



Impressões sobre a identidade americana

Os americanos batem realmente palmas quando ouvem o hino. Os americanos acreditam realmente que um militar que vem do Iraque e do Afeganistão é um herói e que ali luta pela liberdade. Como em tantas outras coisas, isto, que vemos em filmes e documentários e nos parece exagerado, é o retrato de uma certa América.

Os americanos parecem ter uma necessidade de encontrar heróis. De ter algo a que se agarrar. Momentos e figuras que possam recordar e admirar. Talvez isso tenha muito que ver com a identidade americana. Ou a dificuldade em encontrar uma. A história da América é a história de vários povos - entre europeus, asiáticos, africanos e sul americanos. A sua história não é única, as suas raízes não são únicas, a sua cultura não é única e mesmo a língua não é única.

Não encontramos aqui, como na Europa, uma identidade com séculos, construída sobre sucessos e insucessos, heróis e vilões, medo e coragem. A história americana é a história de sonhos. Mas de sonhos recentes. Estados Unidos, sim. Porque teve que se unir algo que estava disperso.

A América precisa de heróis intemporais, carregados de virtudes e defeitos. Lincoln não é Napoleão. Edison não é Galileu. Armstrong não é Colombo. Gershwin não é Mozart. Warhol não é Da Vinci. Os heróis americanos são recentes. Mais grave: a maioria dos heróis americanos são demasiado americanos.

Para os americanos, os militares que voltam da guerra, o seu presidente, os seus atletas devem ser admirados e aplaudidos. Eles são, quem sabe, os heróis que este povo, quase inconscientemente, tanto necessita.

Um grande festival aéreo

Os meus amigos e família conhece-me esta panca antiga por aviões. Com surpresa encontrei no turismo no centro da cidade um folheto anunciando o Oregon Air Show 2009. Aquele que, soube entretanto, é o maior festival aéreo da costa oeste dos Estados Unidos tem lugar logo nesta cidade onde vim estudar e logo na altura em que estou por aqui. Consultado o programa decidi que tinha que ir: aviões a jacto dos anos 50, caças a romperem a barreira do som em frente do público e das melhoras patrulhas acrobáticas do mundo não se vêem todos os dias. Valem bem um dia ao sol ou, mais provavelmente, à chuva.

Imaginem o que mais gostam de fazer e ver e percebem bem o que sinto quando vou a estas coisas.